EPHEMERA DIÁRIO (26 DE MAIO DE 2020): A RAPARIGA DAS FLORES (Kkot P’anŭn Ch’ŏnyŏ)

É difícil haver uma maior colecção de lugares comuns. Começa logo pela florista, como se não houvesse floristas suficientes na literatura. É a rapariga que apanha flores na montanha, a mãe doente a precisar de remédios e que deve dinheiro ao senhorio, a irmã cega e desvalida que canta pelas ruas, o irmão já com consciência de classe (os outros chegam depois), o senhorio agressivo e impiedoso, os camponeses revoltados, tudo entre o sentimental e o lutador. Os postais aqui reproduzidos dão um fraca imagem daquela que é a ópera mais conhecida e mais reverenciada na Coreia do Norte. Teria sido escrita pelo fundador do país e da primeira monarquia socialista, Kim Il-sung, o actual Presidente “eterno” da República apesar de estar morto desde 1994. Kim Il-sung teria escrito a ópera na prisão nos anos trinta, mas foi produzida apenas nos anos setenta, sendo depois representada milhares de vezes na Coreia, na China, um pouco por todo o mundo socialista e nalguns países capitalistas. O filme da ópera teve igualmente um grande sucesso, e deve ter arrancado muitas lágrimas seguidas de gritos de furor contra o infame senhorio. Por uma forma de masoquismo ao serviço dos nossos leitores deste EPHEMERA DIÁRIO foi-se ver, por alto, sublinho o “por alto”, o filme da ópera da Rapariga das Flores. Como de costume, as coreografias das cenas colectivas estão perfeitas e algumas das canções ouvem-se com agrado. Mas três horas…

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