EPHEMERA NA ESTAÇÃO CRONOGRÁFICA: UM TEMPO PORTUGUÊS NAS OBSERVAÇÕES DO ECLIPSE SOLAR DE HÁ 120 ANOS

Um Tempo Português nas observações do eclipse solar de há 120 anos

Do Arquivo Ephemera (Núcleo do Tempo) – Almanach Hachette para 1901, referindo o eclipse total do Sol de segunda-feira, 28 de Maio de 1900, há precisamente 120 anos.

Todo o equipamento de medição, coordenação e emissão de Tempo do então Real Observatório da Tapada da Ajuda foi colocado ao serviço das várias equipas de astrónomos estrangeiros que estiveram em Portugal para observar o fenómeno.

Da página do hoje Observatório Astronómico da Ajuda:

A 28 de Maio de 1900 a umbra do eclipse total do Sol cruzou desde a costa continental atlântica (Porto, Ovar, Aveiro) até boa parte da região das Beiras, passando em cidades como Viseu, Guarda e Covilhã, numa faixa de totalidade com aproximadamente 75 km de largura. O restante território nacional observou um eclipse parcial de elevadíssima percentagem.

No mapa feito no OAL, as linhas isócronas (mesma hora) usam a Hora solar média do Real Observatório Astronómico de Lisboa, na Tapada da Ajuda, pois era a Hora Oficial de Portugal. As linhas a tracejado representam os ângulos de posição do toque da Lua no Sol.

Meses antes do eclipse o sub-director do OAL, Frederico Thomaz Oom, publicou um livro bastante instrutivo e com indicações detalhadas para a observação. Apesar da formação essencialmente matemática deste oficial do exército (e de todas as pessoas do OAL), o livro contém uma descrição admirável e exaustiva do estado do conhecimento sobre a física do sol, inclusivé a discussão muito actual sobre a existência dum novo átomo apelidado de “corónio”, associado à risca de emissão nos 530,3 nm no espectro coronal. Só foi bem identificada em 1930’s por Walter Grotrian e Bengt Edlén como sendo do átomo de ferro altamente ionizado (Fe13+) na zona da coroa solar.

O eclipse trouxe a Portugal vários astrónomos estrangeiros, entre os quais o director do Observatório de Greenwich, o Astronomer Royal William Christie, que observou o eclipse com a sua equipa em Ovar, na zona central da umbra. O papel do OAL foi fulcral pois com os Telégrafos estabeleceu ligações eléctricas que permitiram a todas as equipas receber o sinal da hora correcta, para cronometrar as observações de cariz científico.

Poderá ter sido a primeira vez que houve uma acção pública para divulgação da ciência pois, ao Observatório chegariam dezenas de relatos, registos dos instantes dos contactos e fotografias, além de descrições do comportamento dos animais durante a totalidade. Continuamos este serviço público e o evento em 1900 é uma parte fascinante da nossa história!

Mapa elaborado pelo Real Observatório Astronómico de Lisboa (Tapada)
Ilustração da Wikipedia

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