SOBRE O PRIMEIRO CADERNO DO TRATADO DA ESFERA DE PEDRO NUNES

Recebi de alguns especialistas na obra de Pedro Nunes dúvidas e interrogações sobre o exemplar de um caderno do Tratado da Esfera de Pedro Nunes que referi nesta nota. Eu próprio tinha algumas dúvidas sobre a natureza do exemplar que possuo, em particular pela similitude do carimbo da Academia na capa da obra, com imagens conhecidas.

Cito em seguida as observações recebidas:

1

Integrando a Comissão Científica para a edição das Obras de Pedro Nunes, reconheço perfeitamente esta página como sendo a primeira do conjunto de cinco textos publicados em 1537.
Discordo ainda que possa ser um texto que João Pedro Ribeiro pretendeu oferecer à Academia das Ciências. O carimbo é de posse e quer dizer que o livro entrou na Biblioteca. Sendo apenas uma parte do conjunto habitualmente nomeado por Tratado da Esfera (reeditado em 1940 e 2002), pode resultar do desmembramento de um exemplar que pertenceu à Academia e que veio parar ao comércio por qualquer razão desconhecida. Isso pode ter acontecido em muitas circunstâncias, como sabe.

Adenda: Corrigindo uma informação do anterior comentário, acrescento que (e a imagem não permite percebê-lo) poderá tratar-se de um fac-simile da edição de 1537, e ocorreram várias, algumas parciais.

2

Não posso garantir-lhe sem verificar que uma edição fac-similada de parte do Tratado da Sphera, efectuada em 1877, foi feita a partir do exemplar existente na Academia das Ciências. Era algo que teria de verificar. Digo isto porque o exemplar de 1537 existente na Biblioteca Nacional, tem falta desta primeira folha que foi substituída por uma da edição fac-similada de 1877, e tenho ideia do mesmo carimbo da Academia, no mesmo local em que está no seu exemplar.

Isto dizer que o que tem é esse fac-simile de 1877 (que não é da obra completa), mas, como digo, é algo que teria de ser verificado. Quando for à BN hei-de dar outra vista de olhos nestes exemplares.

(Jorge Semedo de Matos)

Acrescento que o caderno que tenho é composto por 5 folhas sequenciais do Tratado coladas junto com a folha de oferta de João Pedro Ribeiro.. Os carimbos na capa e na folha autografa são distintos.

Este caderno vinha num conjunto de papéis desorganizado, datados na sua maioria do século XVIII (incluindo este) e das primeiras décadas do século XIX.  O preço foi pelo conjunto e, quando o comprei, nem sequer tinha visto o caderno do Tratado.

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Quando o encontrei também pensei que era bom demais para ser verdade e pensei nas hipóteses que Jorge Semedo de Matos coloca. Podia-se tratar de um extravio, mesmo de um roubo, do exemplar da Academia, mas a verdade é que nenhum preço que me foi pedido pelos papéis implicava que quem o vendia sabia o que lá estava.

Não sendo especialista nem do autor nem da edição da época, coloquei também a hipótese de ser um facsimile, mas contra essa hipótese, que não explorei devidamente,  pesava o tipo de papel que, pela gramagem grossa e sem acidez , parecia ser anterior ao século XIX. Só conhecendo os facsimiles existentes e vendo o seu papel se pode fazer essa comparação. Face a estas dúvidas observei também que o  papel com o autógrafo de João Pedro Ribeiro tem uma marca de água em maiúsculas que diz LOUZAA (ou LOUZADA?) .

Dito isto, o exemplar que possuo está à disposição dos estudiosos destas edições.

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