EPHEMERA ATINGIU 2000 NOTAS

1. Com a nota anterior, o EPHEMERA atingiu 2000 notas, organizadas em mais de 2500 categorias, com 1345 imagens documentais, a que se somam cerca de 410 documentos integrais publicados no Google Docs, desde Março de 2009. Na verdade, o EPHEMERA tem apenas um ano e oito meses de actividade e, se não pode (nem deve) competir com as grandes instituições do Estado na sua obrigação de salvar e colocar à disposição do público o nosso património documental, compete bem com outras instituições e fundações que recebem muitas centenas de milhares de euros, com resultados muito mais escassos. Para além disso, há no EPHEMERA  um trabalho de recolha de determinadas informações e documentos, que não é feita por ninguém de forma sistemática, nem esporádica.

 

2. o EPHEMERA  tem cerca de 600 a mil “vistas” diárias, correspondendo o primeiro número a um núcleo duro de leitores diários, o que para um sítio especializado desta natureza  é razoável. Para além disso, há toda uma série de consultas sobre documentação feita por e-mail, que tem vindo a ser respondida, e a cedência de materiais para exposições públicas. Muitos dos documentos aqui publicados têm sido utilizados principalmente em artigos de jornais, em muitos casos sem citação devida, o que é sempre fácil de identificar dada a natureza muitas vezes única dos originais. Outros artigos, quer na imprensa, quer em blogues, em Portugal e  no Brasil, fazem a citação devida, assim como sempre foi dada a autorização para a utilização extensiva da documentação aqui publicada. Durante o próximo ano, alguns livros serão publicados com materiais recolhidos no EPHEMERA.

 

3. Para além do que é publicado, muito é recolhido, tratado e guardado, um processo invisível, mas fundamental que envolve o meu  ARQUIVO / BIBLIOTECA. À data em que inesperadamente voltei à Assembleia da República em 2009 o processo de constituição de uma fundação estava em curso, doando eu próprio não só todo o arquivo e biblioteca, mas também   outros bens imobiliários destinados a garantirem a sobrevivência dos fundos aqui reunidos. Existiam conversas informais com o Município de Rio Maior para que a sua localização permanecesse na Vila da Marmeleira, com acesso fácil a partir de qualquer ponto do país e condições excelentes para o trabalho e a investigação. Essas conversas e a formalização de uma Fundação foram interrompidas porque  nunca o quis fazer enquanto exerci funções políticas e continuo a não querer fazê-lo agora até estas funções cessarem. Mas existe um acordo familiar sólido para que todos estes bens, independentemente do seu valor material, sejam colocados à disposição de todos, até porque pela sua dimensão e dificuldades de conservação, ele está para além da possibilidade de um indivíduo que não dedique a maioria do seu tempo e do seu dinheiro a esta cerca de centena de milhar de títulos na BIBLIOTECA,  aos milhares de títulos de jornais, e às centenas de metros de ARQUIVO, como tenho feito até agora e tenho intenção de continuar a fazer.

 

4. O valor documental do ARQUIVO / BIBLIOTECA deve muito aos leitores e amigos do EPHEMERA, que não só participam voluntariamente numa rede nacional de recolha de ephemera, como aconteceu nas últimas eleições autárquicas, como oferecem muitos materiais, sempre de grande valor.  Desde um panfleto único, publicado numa eleição para uma Junta de Freguesia do interior do país, até arquivos pessoais, colecções documentais e bibliotecas inteiras, tem entrado em ritmo regular. Está neste momento em processo de entrada uma biblioteca de duas gerações, feita em parte em Portugal e outra no exílio, com cerca de 7500 exemplares, incluindo documentação sobre o movimento comunista e  a esquerda em Portugal e na Europa, de que mais tarde farei uma nota detalhada. Mas o fluxo tem sido contínuo, e no último ano inclui os papéis de José Carlos Ferreira de Almeida, partes das bibliotecas e arquivos da família Leitão de Barros,  os livros e papéis  de Maurício Pinto – Judite Mendes de Abreu, a Colecção da Direita Radical, a Colecção Maçónica, ambas nacionais e internacionais e envolvendo livros, publicações, panfletos, correspondência, originais, fotografias e objectos, assim como a doação por Conceição Monteiro do seu arquivo incluindo uma documentação fundamental sobre Sá Carneiro, o PSD, o CDS, a AD e sobre a vida política desde o “marcelismo” até 1981. Refiro estas ofertas em particular pela sua importância e dimensão, mas elas são apenas uma parte de tudo o que tem sido oferecido e merece menção.

 

5. Muitos outros materiais são adquiridos por mim, em alfarrabistas, leilões, a particulares, em Portugal, nos EUA, na Europa, por esta ordem de importância. Fica caro, mesmo muito caro, mas é sempre com grande contentamento que vejo salvar de um destino muitas vezes inglório, ou nalguns casos da destruição e da dispersão, muita documentação, que se perderia ou não viria a público tão cedo. É o caso de grandes lotes de fotografias que ainda não foram divulgados (como por exemplo fotografias de campanha da I Guerra Mundial),  documentos para a história do movimento socialista português desde o século XIX, até ao século  XX (fundos sobre o antigo Partido Socialista e da União Socialista), documentos da censura, uma correspondência amorosa com cerca de um milhar de cartas do início do século XX, papéis militares, etc., etc. Nas compras tenho a  preocupação de completar os núcleos existentes, em particular naqueles que ganham com uma perspectiva comparativa como é o caso do movimento comunista. Aqui tenho também em conta o facto de muitas publicações comunistas internacionais não existirem em nenhuma biblioteca ou arquivo português porque foram impedidas de cá chegar durante quase cinquenta anos.

 

6. O ponto mais fraco deste trabalho tem sido a consulta directa dos documentos e arquivos in loco. Alguma tem existido, de que têm resultado livros, artigos e documentários televisivos, mas estou longe de ter respondido a todas as solicitações recebidas. Vou tentar melhorar esse aspecto do serviço aos investigadores, jornalistas e aos interessados, mas como é o que mais afecta o meu tempo útil de trabalho no ARQUIVO / BIBLIOTECA, é também o mais difícil. De qualquer maneira vamos ver se melhora.

 

7. E vamos continuar. Não deitem nada fora. Divórcios, mudanças de casas, mortes, são momentos de muito risco para os papéis de que se faz o EPHEMERA. Eu vou buscar o que for preciso, onde for preciso e dar-lhe-ei nova utilidade para todos. Conto com a enorme dedicação dos leitores e amigos do EPHEMERA, uma iniciativa genuína da sociedade civil, ao serviço da nossa história e da nossa memória.

3 Comments

  1. Pois… parabéns, bom trabalho de voluntariado!
    Às vezes elucidativo que uma memória recente, pode ser rapidamente esquecida.

  2. Consulente diário de EPHEMERA, quero registar e aplaudir o sentido cívico dessa luta permanente contra a amnésia voluntária que grassa por aqui, pois, sem a consciência da historicidade viva do nosso património material e simbólico, não saberemos ler criticamente o presente nem a construção do futuro estará ao nosso alcance. Além disso, felicito o arquivo-biblioteca EPHEMERA pela dedicação aos suportes tradicionais da escrita, tão frágeis e perecíveis. Com efeito, não creio haver e-book que valha o perfume da carneira das encadernações , nem o encarquilhado crepitante de um manuscrito autógrafo. Por tudo isto, bem haja !

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