ARQUIVO DO PCP(ML) – NORTE – SITUAÇÃO NO LICEU ALEXANDRE HERCULANO (PORTO, DEZEMBRO DE 1974)

1 Comment

  1. Boa tarde
    Venho comentar mais o conteúdo do que a forma destes dois documentos, pois eles referem-se a eventos em que estive pessoalmente envolvido e de uma forma dirigente, não meramente activa.
    Sinto que estes dois documentos reflectem fielmente o afastamento que a UEC(ml) tinha relativamente aos eventos e também às pessoas que lhes estavam próximas.
    Nascido em 1957, eu era estudante no Liceu Alexandre Herculano (LAH) e aluno do então 7º ano. Em finais de 1973, então com 16 anos, eu tinha-me aproximado do grupo Por um Ensino Ao Serviço do Povo (PESP) então a funcionar no TUP (donde seriam expulsos muito pouco tempo depois pelos CREC), vindo de círculos próximos da UEC. Em 1974, julgo que em Junho, fui eleito representantre do meu ano ao Conselho Directivo, e assim estava numa posição excelente para tomar de assalto a direcção da Associação no início do novo ano lectivo. A lista que então constituímos era POP em título mas na prática era de facto unitária de várias correntes de extrema-esquerda, com um programa primário anti-fascista e apenas depois anti-revisionista (distinguindo-nos do MRPP que tentava entrar nas acções com um programa inverso). Assim, as pessoas que agregámos na lista embora fôssemos maioritáriamente PESP, incluíam CREC, LUAR e outros. Ora isto não é reflectido no relatório. As nossas acções foram importantes no conjunto do movimento associativo liceal de extrema esquerda (saneamentos de professores, greves, apoio às lutas mais importantes que se travaram fora das escolas) e foram um caso raro de acções conjuntas não sectárias (de facto havia mais sectarismo e competição entre pessoas PESP pelo “prestígio de dirigir a luta” do que entre organizações- bem, nós não éramos uma organização…).
    Ler estes apontamentos é para mim muito estranho, pois estávamos em contacto quase diário com outras pessoas PESP de outras escolas, mas NUNCA se exerceu sobre nós qualquer tutela ou tentativa de cumprimento de linha orientadora. Nós líamos avidamente e aproximámo-nos do PUP (vendas de jornais, reuniões, leitura dos documentos do PCP(ml), etc) mas as orientações eram exclusivamente definidas por nós.
    (A propósito, eu cheguei a ter uma colecção FABULOSA de materiais diversos de antes e depois do 25 de Abril das mais variadas organizações e movimentos, pois tinha espírito de coleccionista; infelizmente não conservei muitas dessas peças documentais, apenas conservo algumas publicações como o AVANTE!- 36 números entre 1955 a 1974- e outras coisas muito dispersas e com pouco significado).
    Os apontamentos para mim revelam a imbecilidade do relator, e da própria UEC (ml). De facto quando ele diz “temos” de facto não tinham nada. As pessoas é que estavam próximas das posições do PCP (ml). Podia referir muitas coisas, e em detalhe porque é que esses apontamentos foram feitos por alguém que simultaneamente acreditava que estava a fazer algo de importante (embora totalmente desligado do que nós realmente estávamos a fazer) e ao mresmo tempo estava a criar uma ficção para satisfação dos seus superiores (embora totalmente inconsequente pois nada foi feito pela UEC(ml) para segurar-nos a nós ou a Associação). A verdade é que o Jornal de Notícias publicou diversas notícias sobre nós de longe mais imnformativas do que aqueles apontamentos.
    Os eventos são superficialmente descritos e não há o menor esforço em caracterizar o seu próprio campo. As pessoas que apoiavam a lista poderiam ser 30 como diz o reporte, mas o núcleo central de apoiantes era inferior a uma meia dúzia. Além disso, a força individual das pessoas das outras organizações era por vezes muito interessante, e esse facto também não é reflectido, embora isso seja compreensível. O elemento do PRP tornou-se mais tarde um dos principais operacionais. Julgado e condenado é hoje floricultor.
    O fracasso organizativo da UEC(ml) pode ser aferido pelo facto dos elementos que estiveram nesse ano nos vários liceus do Porto envolvidos no trabalho Associativo (pode-me ter escapado alguém mas eu duvido), apenas duas pessoas vieram a ser absorvidas na organização: uma veio a integrar a OCMLP quando o PCP(ml) se desintegrou e a outra manteve-se no CMLP até à formação do PCP(R).
    Todas as outras pessoas se dispersaram (eu inclusive) consoante a sua preferência de vida.
    Agora, sem espírito de nostalgia mas mais como reconstituição da minha memória, estou a tentar reunir de novo uma pequena colecção de jornais, e outros documentos da época, mas já cheguei à conclusão que nunca reconstituirei a minha colecção. Mas vá lá que ainda tenho a memória.
    Desculpe a extensão desta coisa.
    Augusto Mouta

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