Quando lhe tirei esta fotografia, no dia do seu doutoramento honoris causa pela Universidade do Porto, o Vasco, mais que sabedor da sua condição terminal, sorriu e disse: vou pôr-me na posição do Jorge Luís Borges. E colocou as mãos, o corpo e a bengala na posição de uma célebre fotografia de Borges. Vasco, como Borges, era um amador de livros, um bibliófilo, e tinha um especial gosto pela sua biblioteca pessoal, cujas aquisições mais raras tinham, como sempre acontece nestes casos, histórias associadas.
Na prática da nossa amizade os livros eram uma constante: comprávamos livros em conjunto, trocávamos informações sobre o que estávamos a ler e dizíamos um ao outro o que cada um “tinha” que ler. Foi assim até alguns dias antes da sua morte. O Vasco, sempre que me visitava, passeava entre as estantes e consultava algumas raridades que muito prezava, sendo que o último livro que me recordo de folhear com interesse foi uma edição setecentista de Grócio. Sobre os meus livros e o labirinto que os abriga escreveu um poema onde está tudo dito.
Mas foi mais longe: ofereceu ao ARQUIVO / BIBLIOTECA alguns dossiers do seu arquivo pessoal, e aqui estão registados alguns poemas repentistas que muitas vezes fazia enquanto estava no Parlamento Europeu, ao almoço, ou nas longas caminhadas nos corredores infindos nos edifícios de Bruxelas ou Estrasburgo. Em português, francês e… alemão.
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