EPHEMERA DIÁRIO (2ª SÉRIE) – DEVOLVE O CAMUS (31 DE JANEIRO DE 2021)

Nós por cá, no ARQUIVO EPHEMERA, sabemos muito bem que as paredes falam. Falam muito, contradizem-se, riscam-se, censuram-se, são prosaicas e pedantes, elaboradas e direitinhas, brutas e selvagens, são intelectuais e boçais, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. O verdadeiro militante do EPHEMERA não consegue andar sossegado pela rua, tira máquina, tira telemóvel, pára o carro em sítios improváveis, para ouvir as paredes. Seja em Vilar Formoso, seja em Paris, em Berlim ou em Dallas. Com o tempo e a experiência percebemos o que há de comum no mundo dos grafitos, das pichagens, dos murais, tudo pré-arte de rua. Mas percebemos também as diferenças das paredes de Coimbra ou de Oxford, do Porto e de Nova Iorque, diferenças de tradição, culturais, políticas, de estilo, de palavras de ordem, do peso dos acrónimos, da rapidez clandestina ao trabalho colectivo, público, muitas vezes encomendado. E a diferença da imaginação.

Temos de tudo, mais de um milhar de fotos por todo o mundo, e cresce todos os dias.  Mas, de vez em quando, aparece uma surpresa: “Devolve o Camus”. Porquê? Foi emprestado e não devolvido? Não me parece. Com esta mania para complicar que os intelectuais têm, deve ter algum meta-significado. Qual?

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Jaime Monteiro responde no Facebook: «Bom texto! Neste caso o significado é bastante prosaico. A câmara municipal de Coimbra claramente não partilha da sensibilidade da Ephemera para as expressões artísticas e intelectuais em meio urbano. O retângulo em branco que se vê na imagem fora outrora uma pichagem com uma citação de Albert Camus que a CMC decidiu ‘silenciar’. Em pouco menos de uma semana presumo que o autor decidiu dar uma lição de sociologia aos censores. Passaram 3 ou 4 anos pelo que acho que podemos chamar-lhe uma vitória da liberdade de expressão.»

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