ENTRADAS – PAPÉIS E LIVROS DE JOÃO E IDALINA SÁ DA COSTA – NOTA INTRODUTÓRIA

Agradeço a Margarida Sá da Costa e sua irmã, filhas de João Sá da Costa  (1924-2002) e Idalina Sá da Costa  (1937-2020), a oferta ao ARQUIVO/BIBLIOTECA  EPHEMERA de parte do espólio documental e da biblioteca de ambos, personalidades de relevo da cultura portuguesa (e não só), principalmente pela sua actividade editorial, no século XX.  Sobre o papel de João Sá da Costa, para além da sua militância cristã, escreveu Frei Bento Domingues O.P.:

João Sá da Costa nasceu a 10 de Janeiro de 1924. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Ainda estudante, fez parte do MUD Juvenil como católico independente. Leccionou durante dois anos nos liceus de Vila Real e de Aljustrel.Proibido de ensinar pela polícia política de Salazar, foi convidado pelo pai, o editor Augusto Sá da Costa, a integrar os quadros da Livraria Sá da Costa Editora. procedeu à renovação do catálogo editorial, publicando a nova série de Clássicos Sá da Costa, obras de António Sérgio, Clássicos do Estudante, Cadernos de Iniciação Científica de Rómulo e Carvalho, entre muitas outras obras de pedagogia e cultura.Em 1983, com Idalina Sá da Costa, sua mulher e companheira de vida e trabalho durante 40 anos, fundou as Edições João Sá da Costa, com a linha editorial de sempre, dedicada à publicação de grandes obras da cultura portuguesa. (Público, 14 de Julho de 2002)

Numa notícia da Lusa (25 de Novembro de 2020), quando da morte de Idalina, faz-se também uma pequena biografia:

Nascida em 25 de Setembro de 1937, Idalina Augusta Ribeiro Fonseca Sá da Costa era licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, à semelhança do marido, o editor João Sá da Costa (1924-2002), que foi uma das mais importantes personalidades do mercado livreiro em Portugal, com quem partilhou a responsabilidade das Edições Augusto Sá da Costa desde o início da década de 1960.

Nestas edições, lançou a colecção de Ciências Humanas, promoveu uma série exclusivamente dedicada a autores africanos, pioneira no panorama editorial português, com uma componente de literatura infanto-juvenil, e manteve a colecção dos Clássicos, onde foi possível encontrar autores como Padre António Vieira, Diogo do Couto, Gil Vicente, João de Barros, Luís António Verney, Luís de Camões, Sá de Miranda, sem esquecer Descartes ou la Bruyère e os clássicos gregos e latinos. Co-organizou, com Augusto Abelaira, a edição crítica dos Ensaios de António Sérgio, em colaboração com Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho, Rui Grácio e Joel Serrão. Orlando Ribeiro (Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico e Ensaios de geografia humana e regional), Eduardo Lourenço (Poesia e metafísica), Paulo Freire (Educação Política), Maria Leonor Carvalhão Buescu, Miriam Halpen Pereira, Paul Teyssier ou Georges Lefebvre foram autores publicados pela Sá da Costa na área das Ciências Humanas. Agostinho Neto, Castro Soromenho, Fernando Costa Andrade, Luandino Vieira, Ruy Duarte de Carvalho foram alguns dos autores da lusofonia também publicados pela editora, à qual se deve ainda a colecção Terceiro Mundo, relacionada com a emancipação de povos de África, Ásia e América Latina nas décadas de 60 e 70 do século passado.

Idalina Sá da Costa foi ainda um dos nomes associados à publicação em Portugal da enciclopédia Focus, de origem sueca, mais uma vez em colaboração com Vitorino Magalhães Godinho, Manuel Rocha e Joel Serrão, e com autores como Alberto da Costa e Silva, Celso Cunha, Eugénio Cardigos e Fernando Branco.

Com o marido fundou, em 1984, as Edições João Sá da Costa, mantendo as linhas editoriais anteriores, publicando obras de Orlando Ribeiro, Lindley Cintra, António Gedeão e Manuel Alegre, entre outros autores portugueses. Foi igualmente pioneira na publicação de álbuns e catálogos, como os Cancioneiros Medievais, numa reedição de Rodrigues Lapa. Na área da literatura infanto-juvenil, trouxe para Portugal, no início dos anos 70, os inovadores títulos premiados de Lela e Enzo Mari, como A Maçã e a Lagarta, A Árvore, O Ovo e a Galinha e O Balãozinho Vermelho. Publicou e traduziu obras como O Pintor e o Pássaro, de Max Velthuijs, e Ivan e o Ganso, de Mischa Damjan e Toma Bogdanovic, que marcaram a modernidade da literatura para crianças, e recuperou nos anos 70 os livros infantis de António Sérgio, como Os Conselheiros do Califa” ou Na Terra e no Mar.

Numa primeira fase após a doação, transporte e armazenamento, iniciou-se o esvaziamento das caixas e a colocação dos livros em estantes, ainda apenas organizados pela numeração original da caixa. As pastas com documentação foram colocadas à parte para serem inventariadas.

Numa primeira observação, destaca-se de imediato a importância quer da biblioteca, quer da documentação, cujo conteúdo irá sendo divulgado, digitalizado e publicado.

 

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