
O nosso “Zé Manel” morreu. Não foi uma surpresa, mas uma tristeza. O próprio Zé Manel nos manteve informados da doença e sabiamos da sua gravidade. Ainda há muito pouco tempo organizou uma habitual sardinhada em Sesimbra, onde muito de nós estivemos presentes e já se percebia quer a debilidade, quer a força de vontade que o caracterizava.
Nos últimos anos, contamos com a sua presença regular como voluntário do Arquivo Ephemera. Era um homem discreto, sóbrio e com uma fina ironia. Sabíamos que sabia muito, mas muitos de nós não conheciam a sua obra de historiador.
A sua biografia “oficial” é também bastante omissa:
José Manuel da Silveira Lopes licenciou-se em História, pela Faculdade de Letras de Lisboa, em 1969. Elaborou e apresentou então, sob a orientação do Prof. Jorge Borges de Macedo, uma dissertação sobre história medieval de Portugal. Esteve ligado a projectos de investigação, em colaboração com os Professores A. H. Oliveira Marques e Vitorino Magalhães Godinho. Recentemente, dedicou-se ao estudo e divulgação de temas da história de Angola, mormente no que diz respeito aos acontecimentos independentistas em que participaram o clero católico nativo e as missões protestantes.
Os seus últimos livros Lutem Até Alcançarem a Liberdade, sobre luta da independência em Angola e O Cónego Manuel das Neves – Um Nacionalista Angolano (Ensaio de Biografia Política) (veja-se a sua entrevista à RTP) são um exemplo do seu trabalho histórico rigoroso. Fazia jus à opinião de um homem pouco dado aos elogios como era Jorge Borges de Macedo, que o considerava um dos seus melhores alunos de sempre.
Ao Arquivo Ephemera trouxe uma doação inicial de materiais sobre a história ferroviária, entre os quais:
JOSÉ MANUEL DA SILVEIRA LOPES – DESENHOS TÉCNICOS DOS CAMINHOS DE FERRO (CP)
JOSÉ MANUEL DA SILVEIRA LOPES – CHAPAS DE IDENTIFICAÇAO
Foi responsável pelos livros da biblioteca relativos à História de Portugal no Barreiro e, nessa qualidade, organizou a colecção histórica, mas também preparou o envio de duplicados quer para a Universidade de Varsóvia, quer para Angola, onde fez vários contactos numa viagem recente. Mas, no meio da nossa tristeza, ficou de “herança” uma pequena alegria: o Zé Manuel deixou-nos um trabalho original, que conseguiu acabar e que será publicado em breve, com o título provisório de Uma Visão de Sociedade – A partir do espólio do advogado M. S. M. O livro deu-lhe “muito trabalho”, mas também muita alegria e entusiasmo pelo que encontrava no espólio que estava a estudar.
Já nos faz falta a todos,
JPP
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