Encontrado num alfarrabista esta preciosidade. “Rudy” (1912-1956) foi um obscuro pintor, aguarelista e ilustrador, natural de Olhão. O diário do ano de 1935, escrito numa Agenda Rex, retrata um história de infelicidade e miséria, dobrada por desgostos amorosos. “Rudy” queixa-se da vida, da falta de dinheiro, das dificuldades em lhe pagarem as ilustrações que faz (no Século por exemplo), das doenças (queixa-se do coração e desenha um pequeno coração), dos azares amorosos. É uma vida feita de esperas e zangas, dominada pela pobreza – o senhorio quer expulsa-lo, tem que empenhar o fato “que traz vestido”, não tem dinheiro para comer – e pela infelicidade. Tudo ilustrado com desenhos e colagens, de receitas de farmácia, de contas de restaurantes de bilhetes de eléctrico e de programas de cinema . Muitas personagens do submundo da edição popular, do jornalismo, dos ilustradores de capas e reclames, aparecem no diário.
esqueci-me de lhe dar os parabéns pela plataforma que desta vez escolheu, o wordpress, que até devido a experiência própria, considero muito superior à do google, sendo que é toda baseada em software livre, algo que considero de enorme qualidade e na qual Portugal deveria apostar fortemente.
obrigado,
rjnunes
Muito bom! Obrigado mesmo, por esta pequena amostra; que valente raridade!
Olhão é uma terra que nunca deixará de me surpreender. Não conhecia Rudy, mas conheço dezenas de personagens que fariam as delícias de qualquer romancista. Capitão Zora, por exemplo, contrabandista de Al Capone com livro publicado na América sobre as suas aventuras no contrabando do rum, ou o “Rei de Andorra”, russo aventureiro, rei por uma semana, que veio parar a casa de Francisco Fernandes Lopes, médico e musicólogo extraordinário, ou o irmão da primeira mulher de Claude Lanzmann, que andou por lá refugiado, ou Israel Anahory que lá teve residência forçada, ou o anarquista bartolomeu constantino…
Este diário é uma descoberta extraordinária. As Bibliotecas Municipais de Lisboa andam “loucas” à procura dos herdeiros deste autor, para negociar a digitalização e disponibilização na net de uma obra do senhor.