EM CONSTRUÇÃO
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LÁ ESTIVEMOS
Participamos com os nossos amigos espanhóis no XII Intercambio de Pegatinas Políticas que decorreu entre 28 e 29 de Outubro em Mestas de Con, em pleno coração das Astúrias. Já lá tínhamos estado no ano anterior e o ambiente era muito especial. No encontro deste ano, mais concorrido, o mesmo ambiente, ao mesmo tempo obcecado, como é típico dos grandes coleccionadores, e fraterno, repetiu-se. Aqui nada se vende, nem em bom rigor se troca, visto que cada um coloca numa mesa o que traz e todos são livres de retirarem o que quiserem, seja um autocolante, seja cem. Tudo é auto gerido sob o patrocínio do nosso anfitrião Juan Leon Sanchez (no Hotel La Ruta de Cabrales, autor de vários livros sobre “pegatinas”, e o principal impulsionador destes encontros), e o gosto é tanto que tendo combinado na véspera que se iniciava a colocação nas mesas por volta das 10 horas da manhã, às 9 já tudo se movia. de mesa em mesa.
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Neste encontro estiveram Miguel Sanchez Gutierrez, Miguel Angel Gutierrez [Guti], Cinta Gonzalez Castilla, Jose Lopez Laiz [Tovaris], Javier Garcia Zabalza, Eduardo Abad , Marcos Vinjoy , Juan Leon Sanchez Xosé Lois Carrión, Manuel Rodriguez Nandin, Lluis Daza, Raul Uriendes, Bonifacio Elcoro, Carlos Paulos Rey, Iñaki de Nicolás, Juan Carlos Armental, Garnacho , Miguel Xabier Arganzoniz, entre outros.
O encontro foi coberto pela imprensa e rádio locais e regionais, tendo a Radiotelevisión del Principado de Asturias (RTPA) feito uma reportagem (aos 35.54) com participação portuguesa.
Páginas da colecção de Juan Leon Sanchez com autocolantes do PSOE e da CGT.
Durante já quase dois anos de colaboração com os grandes coleccionadores de autocolantes políticos de Espanha, os laços de amizade e colaboração reforçaram-se e hoje recolhemos o que podemos para enviar para Espanha ou para levar a este encontro e recebemos um fluxo constante de materiais para o EPHEMERA. Sabemos de várias histórias de dedicação ao trabalho que fazemos, com os nossos amigos a recolherem muito para além do que eles próprios coleccionam, fazendo com que a colecção espanhola do ARQUIVO / BIBLIOTECA, com destaque para as Astúrias, Galiza, Euskadi , Andaluzia e Catalunha seja já muito considerável.
(Agradecimentos aos nossos amigos que ofereceram materiais para o EPHEMERA neste encontro, em breve.)
Cartazes (mais de cem).
Livros e revistas em formato livro (várias dezenas).
Autocolantes de vários países (muitas centenas).
Pins (dezenas).
Objectos.
COLÔMBIA
Cartaz.
Autocolantes.
Panfletos e folhetos.
Fita.
Materiais do Plebiscito na Colômbia sobre o acordo de paz (2 de Outubro de 2016), trazidos por Jose Lopez Laiz [Tovaris].
LÁ ESTAREMOS
Em Nova Iorque.
EPHEMERA NO PORTO
No Expresso diário do dia 29 de Outubro saiu um artigo de Valdemar Cruz intitulado “Os Insumissos” sobre a exposição, e que reproduzimos em ANEXO. É pena que o artigo venha acompanhado de uma foto de… Coimbra, o movimento estudantil em que o Porto menos se reconhecia, e contenha alguns erros de facto (por exemplo: “O Grito do Povo”, mais tarde OCMLP, onde pontificavam Pacheco Pereira e Pedro Baptista”….) .
APELO À IDENTIFICAÇÃO
Vamos inaugurar uma secção nova, a do apelo aos nossos amigos e leitores para ajudarem a identificar textos sem assinatura nem data. A situação nas listas estudantis é particularmente calamitosa.
Alguém nos sabe dizer de que escola é esta lista estudantil? Sabemos que é do Porto e por volta de 1975-6.
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AGRADECIMENTOS E ENTRADAS
Agradecimentos a José Moreira, José Pereira Miguel, Mafalda Braz Teixeira, Miguel B., Maria Faustino, e outros (em breve.)
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COLECÇÃO EPHEMERA
AMORZINHO NO TEATRO
O livro Amorzinho, organizado por Rita Maltez a partir de uma correspondência amorosa entre uma costureira “Lourdes” e um empregado de escritório “Alfredo”, durante dez anos entre as décadas de trinta e quarenta, está a ser adaptado ao teatro pela Truta- Decorrem os ensaios e será estreado em 16 de Novembro na ZDB.
Algumas das referências ao livro de Fernando Pereira Marques, cuja apresentação em Lisboa será em breve.
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Valdemar Cruz, “O que ando a ler”, Expresso diário, 28 de Outubro de 2016.
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EXPOSIÇÕES EM CURSO COM MATERIAIS DO EPHEMERA
EM LISBOA
EXPOSIÇÃO EM PREPARAÇÃO SOBE AS ELEIÇÕES AMERICANAS DE 2016
NA ESCS (NOVEMBRO DE 2016)
Alguns materiais que integrarão a exposição sobre as eleições americanas na ESCS expostos ma Livraria Ler Devagar.
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NO PORTO
COISAS QUE INTERESSAM AO EPHEMERA
BIBLIOTECA
OS INSUBMISSOS de Valdemar Cruz
Passam em bandos, e não parecem pardais. Andam à solta, e não respiram liberdade. Gritam a plenos pulmões, e as vozes parecem agrilhoadas. Passeiam-se vestidos de negro, e a negritude dos olhares e das atitudes deixam manchas pela cidade. Por estes dias, o mais difícil é não tropeçar naquelas ruidosas hordas de jovens arregimentados para a chamada praxe universitária, esse exercício público de humilhação, de culto da hierarquia, de negação de qualquer noção de liberdade e igualdade, de ausência de fraternidade, de glorificação dos mais reaccionários dos valores de uma sociedade, materializados na ideia da moca em madeira a encabeçar muitas destas peregrinações.
Os jovens caloiros, conscientes ou não desse facto, protagonizam a submissão consentida. Na adaptação de uma pergunta colocada em tempos pelo sociólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu – “O que faz os dominados obedecerem?” – seria interessante perceber as razões mais profundas desta sujeição cega, mas simbolicamente representativa do estado de desistência e acomodação a que chegaram importantes sectores da sociedade portuguesa.c
A circunstância de as praxes, tal como são praticadas, terem encontrado terreno fértil à propagação, é um sintoma. Tal como o era, em sentido contrário, a absoluta rejeição por parte do movimento estudantil nos anos de 1960 e 1970, de um conjunto de práticas que em si mesmas constituem a negação da democracia.
É paradoxal constatar como entre importantes núcleos de estudantes universitários criados e a viverem numa sociedade democrática, vigora uma inquietante ausência de cultura e valores democráticos, por outro lado muito presentes nos gestos, nas atitudes, no posicionamento dos estudantes que, não obstante – ou por isso mesmo – viverem em ditadura, reclamavam para o seu dia a dia e para as relações interpessoais, todo um conjunto de pressupostos assentes no respeito pela democracia e pela dignidade humana.
Basta passar pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto – Polo das Indústrias Criativas, à Praça Coronel Pacheco, para perceber esta abissal diferença de mundos. A exposição documental “Movimento Estudantil na Universidade do Porto 1968-1974” constitui um retrato das preocupações, dos anseios, das lutas, da coragem, da entrega dos estudantes a causas. Poderiam ser radicadas em questões estudantis, poderiam ter inspiração política num sentido mais lato, poderiam decorrer de preocupações sociais. Mas eram causas. Eram dinâmicas de grupo assentes da consciência do papel e da importância dos estudantes na sociedade. Mesmo se, naquele tempo, a Universidade era frequentada por uma elite que estava longe de representar as camadas mais desfavorecidas da população.
A mostra, no essencial construída a partir do arquivo pessoal “Ephemera”, de José Pacheco Pereira, ao mostrar os panfletos, os cartazes, os comunicados, os jornais então distribuídos clandestinamente, revela como, num primeiro momento, a luta estudantil se centrava na legalização das Associações de Estudantes, no reconhecimento do Dia do Estudante e contra a repressão.
Quem tenha vivido aqueles tempos não pode deixar de recordar os memoráveis plenários e assembleias realizados nas escadarias do antigo edifício da Faculdade de Ciências, actual Reitoria da Universidade, quase sempre abruptamente concluídos com a chegada da polícia e as perseguições e cargas policiais na zona da Praça dos Leões. Era uma repressão continuada, que se agravou à medida que se aproximava o fim do regime.
Embora à entrada da exposição ganhe protagonismo um cartaz não assinado, mas com impressão digital deixada pela frase que o preenche – “Por um ensino ao serviço do Povo” – o acompanhamento cronológico das movimentações estudantis permite perceber que, no plano político, e numa primeira fase, só o PCP conseguia ter estruturas a trabalhar nas universidades o enquadramento dos estudantes. Pode mesmo ver-se o primeiro comunicado da União dos Estudantes Comunistas, através do qual a UEC, surgida de uma reorganização dos movimentos juvenis ligados ao PCP, faz a sua apresentação.
“Por um ensino ao serviço do Povo” é a expressão mais tardia de algo que entretanto acontecera nas universidades portuguesas, e em particular no Porto, em resultado do terramoto político e social desencadeado pelo maio de 1968 em França. Os temas centrais da luta são já a guerra colonial, a democracia, o projecto de sociedade (socialista, comunista), a qualidade e a forma do ensino, e o combate contra a ditadura.
O lema daquele cartaz reflete a intensa divisão em grupos e tendências ocorrida no movimento estudantil. A UEC e a sua proposta de unidade passa a ter a concorrência da UEC (ML), organização estudantil do PCP (ML), que centra a sua actividade à volta daquela sigla, mas também “O Grito do Povo”, mais tarde OCMLP, onde pontificavam Pacheco Pereira e Pedro Baptista, ou ainda pequenos núcleos de anarquistas e trotsquistas sem grande expressão, tal como o MRPP, uma quase inexistência no Porto, ao contrário do que sucedia na academia de Lisboa.
Dividiam-se, discutiam entre eles, às vezes por meios pouco pacíficos, acusavam-se mutuamente das maiores enormidades, mas como pano de fundo estava sempre algo inquestionável: resistiam, combatiam todas as actividades inspiradas pela ditadura, incluindo a praxe, sem qualquer tradição no Porto, não desistiam, questionavam a ordem estabelecida. Não vergavam. Não caminhavam de cabeça baixa. Não se deixavam arrebanhar de forma acrítica. Não se deixavam domar por supostas autoridades hierárquicas. Estudantis ou não. Eram os insubmissos.
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