ARQUIVO EPHEMERA: O “PESSOA” DE MAX HÖLZER (NOTA PRELIMINAR)

Entrou no ARQUIVO EPHEMERA o volume da obra poética de Fernando Pessoa usado por Max Hölzer (1915-1984), com centenas de notas manuscritas quer no próprio livro, quer em papéis inseridos nas páginas dos poemas que estava a comentar. Essas notas, assim como traduções de alguns poemas, estão escritas em francês e alemão.

Trata-se de uma descoberta importante para os estudos pessoanos.  A biografia de Hölzer, traduzida e adaptada da Biblioteca Nacional Austríaca, refere o seu trajecto de escritor

Max Holzer , nascido em 8 de setembro de 1915 em Graz, morreu em 26 de dezembro de 1984 em Paris. Holz estudou direito em Graz e depois passou no exame do juiz. De 1950 a 1952 trabalhou como magistrado no Tribunal Regional Superior de Graz.
O seu círculo de amigos incluía os pintores de Graz Kurt Weber e Ferdinand Bilger, e desenvolveu um forte interesse pelo surrealismo francês. Em 1950, Hoelzer publicou o primeiro número das “Publicações Surrealistas” junto com Edgar Jené. Uma segunda edição (1952) foi impressa, mas não entregue. Além de surrealistas franceses, esses volumes também contêm textos de Paul Celan e Michael Guttenbrunner, bem como poesia e prosa lírica de Max Holzer (“A Esfinge”, “Três Poemas” e uma ode a Breton, com a qual abre o primeiro volume) . Seu compromisso com a tradição surrealista refletiu-se nas traduções de André Breton, Georges Bataille, Julien Gracq e Pierre Reverdy, especialmente de 1951 a 1954. Nos poemas após 1960, Hoelzer afastou-se do surrealismo e de um estilo de escrita psicanaliticamente influenciado – voltou-se  para o “poema transcendental” fortemente codificado: o hermetismo e as imagens expressivas caracterizaram cada vez mais sua escrita. Em 1969 Holz recebeu o “Presente Honorário da Academia de Belas Artes da Baviera”, em 1970 o Prêmio Georg Trakl e em 1977 o Prêmio de Literatura da Estíria.

Hölzer visitou várias vezes Lisboa desde a década de sessenta do século XX. Os seus trabalhos sobre Pessoa correspondem ao período do seu interesse pelo esoterismo, o ocultismo, a Cabala e a obra de Gurdjieff,  interesses comuns que o levaram a criar e participa num círculo filosófico com António Telmo . Em textos ficcionais,  Telmo relata as confluências e divergências entre ambos.  Na sua  correspondência com Telmo, que se encontra parcialmente publicada, a obra de Pessoa é referida assim como o seu significado hermético.  Hölzer publicou  na revista Exil um artigo sobre Pessoa “Dans le tombeau de Christian Rosencreutz – Essai d’Interprétation du poème de Fernando Pessoa selon la Kabbale”.

Alguns exemplos das notas e traduções  inseridas na Obra Poética de Fernando Pessoa:

No mesmo volume encontrava-se uma carta de Jacques Masuí (1909-1975),  autor e editor da revista Hermés, com obra publicada sobre a o ioga, a vida espiritual, e outros temas que comunicam com a obra de Hölzer.

 

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