O ARQUIVO DOS DE CIMA E DOS DE BAIXO – NOVIDADES DO ARQUIVO PLEBEU

Não é por acaso que o poema de Brecht, Perguntas de um Operário Letrado, tem sido um motivo recorrente quando falamos do ARQUIVO EPHEMERA, em intervenções, artigos, e apresentações. Num espólio que entrou muito recentemente descobriu-se um cartaz com esse poema, que faz a nossa “imagem da semana”. Brecht fala dos ignorados da história, dos que fazem as muralhas e os palácios, dos que cozinham para os generais, dos que combatem no chão da guerra, daqueles de que a história não fala ou pouco fala, soldados, operários, trabalhadores, mulheres em casa, gente das ruas, crianças nos orfanatos, pobres e remediados, pessoas anónimas e sem poder, felizes e infelizes, com vidas quase sempre difíceis, os de baixo, os plebeus.

É por isso que damos importância aos traços físicos da sua vida, até porque muitas vezes para as elites eles são também um “país estrangeiro”. Nas últimas semanas, o ARQUIVO EPHEMERA valorizou muito esse arquivo plebeu, por oferta e aquisição de muitos milhares de fotografias de pessoas comuns, e de igualmente muitos milhares de cartas cobrindo principalmente as décadas de 40 a 70 do século XX. No caso da correspondência, na sua maioria correspondência amorosa, isso significa também um testemunho detalhado sobre a guerra colonial.

As fotografias retratam, na maioria dos casos, actos convencionais, cerimónias religiosas, festas de aniversário, nascimentos, casamentos, fotos de passe e de identidade, viagens, famílias em conjunto, e grupos nas escolas ou nas empresas. A guerra colonial também tem uma presença significativa pelas fotografias tiradas pelos soldados, retratos de companheirismo, caça, missas, mesmo operações militares.

O número conta porque revela o que se repete e o que é excepcional. Estamos a falar de cerca de 4000 fotografias, e, grosso modo, quase 2000 cartas, que vêm a somar-se a outras recolhas como a que fizemos recentemente em Viseu. Vieram de várias partes do país, Viseu, Viana, Porto, Lisboa, Alentejo e das colónias, Angola, Moçambique e Guiné. Algumas vieram da emigração e do Brasil, mas também do Estado da Índia e de Macau. A tudo isto se soma uma doação muito peculiar de Maria João Almeida, de que falaremos em detalhe em breve, e que é exemplar daquilo que é o objectivo do nosso trabalho.

 

…até dá pulos como os macacos…

Carta nº 224, na verdade quase o dobro.

Para a “burrinha”.

Da “burrinha” para o “elefantezinho”.

De Tete, “dois anos, vinte e quatro meses que consequências traumáticas nos trarão?

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