ENCONTRO E VISITA DA ORGANIZAÇÃO RUSSA MEMORIAL AO ARMAZÉM DO EPHEMERA NO BARREIRO

Uma delegação da organização russa de direitos humanos Memorial, Prémio Nobel da Paz em 2022, pelo seu trabalho de documentar a repressão estatal soviética e russa, encontra-se em Portugal e visitará amanhã, terça-feira, 7 de Fevereiro, a partir das 11h00, os armazéns do Arquivo Ephemera, no Barreiro.

Ainda amanhã, da parte da tarde, terá lugar em Lisboa, pelas 18h00, na NOVA – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, organizada pela Associação Parus, e com o apoio da Amnistia Internacional Portugal, um encontro, onde os membros da direção da Memorial vão falar da sua perspetiva sobre como a história da Rússia está a influenciar o seu presente. José Pacheco Pereira participará neste encontro.

ANEXO:

Memorial em Lisboa: Palestra e Discussão Pública
Em novembro de 2022, a organização russa de direitos humanos Memorial recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho de destacar a repressão estatal soviética e russa. Os historiadores desta organização trouxeram a público as atrocidades da era Estaline e homenagearam as suas vítimas. Documentaram ainda os sequestros e assassinatos durante as guerras na Chechénia e, com isso, responsabilizaram o governo do presidente Vladimir Putin, cada vez mais autoritário.
A Memorial tem-se manifestado contra a agressão de Putin desde a anexação da Crimeia em 2014, e ainda mais após a invasão em grande escala da Ucrânia. A organização está actualmente a pagar um preço alto pela sua posição contra as violações dos direitos humanos. Os seus membros foram processados, atacados, presos e um deles foi mesmo assassinado.
Os escritórios da Memorial em Moscovo foram encerrados sob o pretexto de atuar como “agente estrangeiro” e de “apoiar o terrorismo”. Alguns dos seus membros tiveram que fugir do país mas muitos continuam o seu trabalho dentro da Rússia. A organização ;baseia-se na noção de que confrontar os crimes do passado é essencial para prevenir novos crimes, de acordo com o Comité Norueguês do Nobel, no seu comunicado a nomear a Memorial como um dos vencedores do prémio.
Na palestra e discussão pública que terá lugar em Lisboa no dia 7 de fevereiro, organizada pela Associação Parus, e com o apoio da Amnistia Internacional Portugal, os membros da direção da Memorial vão falar da sua perspetiva sobre como a história da Rússia está a influenciar o seu presente.

● Quem é o alvo de Putin nas suas tentativas de reescrever a história para justificar a invasão da
Ucrânia?
● A crise política atual deve ser vista como continuação da Guerra Fria ou do imperialismo soviético?
● A história da repressão política na União Soviética explica a incapacidade da Rússia de demitir a
ditadura de Putin?
● Como a sociedade russa percebe a guerra na Ucrânia, em face das inúmeras perdas e mobilização
maciça?
● Há movimento antiguerra na Rússia e, se sim, terá alguma chance contra o regime de Putin?

O evento terá lugar no dia 7 de fevereiro, pelas 18h00, na NOVA – Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas.
18h00-19h30 Apresentações e debate
19h30-20h30 Discussão informal e entrevistas
Entrada gratuita. Por favor, use este link para se registrar.
Para mais informações e agendamento de entrevistas, entre em contato com Pavel Elizarov:
+351 969828272, pavel@parusportugal.org

Sobre a Memorial
A Memorial é uma das mais antigas e reputadas organizações de defesa dos direitos humanos da Rússia. Em 2022, a Memorial foi laureada com o Nobel da Paz juntamente com o Centro pelas Liberdades Civis
(Ucrânia) e o ativista bielorrusso de direitos humanos Ales Bialiatski, que se encontra detido. Antes da
dissolução forçada da organização em 2022, a ONG era composta por duas entidades legais: a International Memorial que investigava e preservava a história da repressão política na União Soviética e a Memorial Human Rights Center que se concentrava na proteção dos direitos humanos e no registo de abusos, especialmente em zonas de conflito.

Criada na União Soviética em 1987 após as reformas da perestroika de Gorbachev, a Memorial foi inicialmente empenhada em descobrir os crimes do regime de Estaline. O dissidente soviético e Nobel da Paz, Andrey Sakharov, foi um dos fundadores da organização. Os principais objetivos da Memorial desde o início foram promover os valores democráticos, expor a verdade sobre o totalitarismo e preservar a memória histórica para as gerações futuras. Graças ao seu extenso arquivo físico e digital, a equipa da Memorial tem ajudado milhares de pessoas a descobrir a verdade sobre os seus familiares vítimas da repressão política. A ampla gama de atividades da ONG incluía exposições, projetos de pesquisa, excursões aos locais dos gulags, concursos escolares, publicações e muito mais.

Enquanto a International Memorial lidava com o sinistro passado soviético, a sua congénere Memorial Human Rights Center mantinha um olhar atento sobre os abusos dos direitos humanos na Rússia atual. A Memorial compilava e a monitorizava uma lista de todos os presos políticos na Rússia. A organização desempenhou um papel crucial no registo de abusos dos direitos humanos na região do Norte do Cáucaso e de crimes de guerra cometidos na República da Chechénia durante as guerras russo-chechenas de 1994- 1996 e 1999-2009. Com a ajuda de funcionários locais, a ONG prestou assistência jurídica às vítimas de famílias cujos parentes tinham desaparecido e sido assassinados. Graças ao trabalho da Memorial, centenas de vítimas procuraram justiça no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e receberam uma compensação monetária significativa do estado russo. O trabalho da Memorial no Norte do Cáucaso tornou-se cada vez
mais perigoso, após ameaças dirigidas aos seus funcionários. Em 2009, depois do sequestro e assassinato da proeminente ativista de direitos humanos da Memorial, Natalia Estemirova, na Chechénia, a sua Direcção tomou uma decisão difícil – fechar escritórios na república. Apesar de todos os esforços dos seus colegas, o assassinato de Natalia continua por resolver.

Desde a aprovação em 2012 da polémica lei russa sobre agentes estrangeiros, que foi projetada para minar a sociedade civil, a Memorial, apesar da sua sólida reputação, tem estado sob ataque do regime de Putin. O Memorial Human Rights Center foi rotulado como “agente estrangeiro” em 2014, uma marca negra que os membros da organização contestaram no tribunal, levando-a até o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Em 2021, as autoridades russas mandaram fechar a Memorial, apesar de não terem fundamento legal para isso. Após a invasão russa da Ucrânia, a Memorial assumiu uma firme posição anti-guerra que foi uma das razões pelas quais, a 5 de abril de 2022, as autoridades executaram a sua decisão de dissolver a
organização e fechar os seus escritórios em Moscovo. Enquanto muitos membros foram forçados a deixar a Rússia, outros permaneceram no país apesar do perigo. O trabalho da Memorial continua.

Membros da Direcção da Memorial que vêm a Lisboa:

Yan Rachinsky
Yan Rachinsky é um ativista de direitos humanos, historiador e presidente do conselho da Memorial International. Em Dezembro de 2022 recebeu o Prémio Nobel da Paz em nome da organização. Depois de ingressar na Memorial em 1988, Yan trabalhou na “Topografia do Terror”, um projeto que visou mapear a localização da repressão política na União Soviética.
No início dos anos 90 viajou para regiões de conflito – Karabakh, Transnístria e Ossétia do Norte. Também foi membro da equipa de observação de conflitos durante a primeira guerra russo-chechena (1994-1996). Por mais de uma década, o seu foco principal tem sido os Livros da Memória, que incluem uma ampla base de dados com informações sobre os 3 milhões de vítimas do regime soviético. De acordo com Rachinsky, o número real de vítimas é muito maior, perto de 12 milhões, mas o acesso a muitos arquivos do Estado
ainda é limitado. Yan Rachinsky foi pressionado pelas autoridades russas a desistir do Prémio Nobel da Paz, mas recusou-se a fazê-lo. Atualmente, enfrenta na Rússia um processo judicial por motivos políticos, relacionado com o seu post sobre Joseph Stalin.

Elena Zhemkova
Elena foi uma das fundadoras da Memorial em 1987 e é a sua diretora executiva desde 1995. Ao longo de mais de 30 anos tem estado envolvida em grandes investigações originais, publicações e exposições. Nos últimos anos, tem coordenado a rede da Memorial International que abrange mais de 30 organizações regionais na Austrália, Bélgica, República Checa, França, Alemanha, Israel, Itália, Lituânia, Polónia, Rússia e Ucrânia. Em 2022, recebeu o título de Doutora Honorária em Ciências pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris,
uma grande école e um grand établissement, conhecida mundialmente como Sciences Po (França). As principais áreas em que incidem os interesses da sua pesquisa são a história da repressão política, a análise comparativa dos mecanismos repressivos nazi e soviéticos e a preservação da memória das vítimas da repressão política (monumentos, toponímia, etc.) As áreas do seu interesse público incluem o desenvolvimento de organizações da sociedade civil e dos seus meios de apoio; a educação da juventude e o estabelecimento dos valores democráticos e de direitos humanos.

Pavel Andreev
Pavel é um ativista de direitos humanos e gestor de média. Desde estudante, tem estado envolvido em várias iniciativas de direitos humanos da juventude. Em 2004, ingressou na Komi Human Rights Commission Memorial e, desde então, tem trabalhado na organização. Em novembro de 2014, Pavel foi eleito membro do conselho da International Memorial Society. O seu principal foco profissional é organizar voluntariado e chamar a atenção do público para o trabalho de organizações sem fins lucrativos.

Há mais de uma década que Pavel é o CEO da revista online 7×7. Sob a sua liderança, o meio de comunicação local online, com foco em direitos humanos, transformou-se numa rede de média
representada em mais de 30 regiões e que também possui a sua própria plataforma de blogues. O 7×7 realiza regularmente eventos educacionais off-line, como barcamps, competições e palestras públicas. Em 2019, a 7×7 ganhou o Free Media Award pelo seu excelente trabalho em equipa e cooperação entre jornalistas, bloguers e ativistas.
Pavel Adreev foi ainda o fundador do Revol't Pimenov Center – um espaço artístico e cívico único em Syktyvkar que hospeda exposições, palestras e formações.

Robert Latypov
Robert é presidente da Perm Memorial e membro do Conselho da Memorial Internacional. Há mais de 20 anos que participa no ativismo pelos direitos humanos, bem como no trabalho histórico e
educacional na região de Perm. Organizou acampamentos de jovens voluntários e expedições de busca aos locais dos gulags. Robert Latypov também escreveu vários artigos e livros sobre a história do terror político na URSS.

Alexandra Polivanova
Alexandra é membro do Conselho da Memorial International e presidente da Memorial Rússia. Nasceu em Moscovo e estudou Literatura Nórdica e Russa, juntamente com História e Psicologia social na Rússia, Suécia e nos Estados Unidos. Trabalhou como tradutora de sueco e russo e geriu projetos culturais na Embaixada da Suécia em Moscovo. A Alexandra também foi curadora de programas educacionais para vários festivais de Moscovo. Além disso, foi autora e diretora do projeto de teatro documentário “The Second Act. Grandchildren(“O segundo ato. Os netos”) baseado em entrevistas com os netos de agentes de execução do regime de Stalin. Em 2013, passou a chefiar o projeto de investigação da Memorial “Moscow. The Topography of Terror” (“Moscovo. A Topografia do Terror;).

Yulia Sereda
A Yulia é uma ativista de direitos humanos, editora e jornalista, da cidade de Ryazan, na Rússia. Nasceu em 1960 na região de Donetsk, na Ucrânia. Formou-se no Instituto de Engenharia de Rádio em Ryazan e mais tarde trabalhou como engenheira de software em fábricas e instituições de investigação em Ryazan. Entre 1990 e 1993, trabalhou como jornalista para os jornais independentes “Ryazanskiy Vestnik” e “Vechernyaya Ryazan”. Em 1992, tornou-se fundadora e vice-editora-chefe do “Karta Journal”, um meio de comunicação social independente dedicado à história recente e direitos humanos. Yulia Sereda também foi editora-chefe do portal Human Rights in Russia. Em 1996, participou na Missão de Observação realizada pelas Organizações Não-Governamentais de Direitos Humanos na Chechénia durante o conflito armado com a Rússia. Atualmente, é fundadora e editora do projeto “Ryazan Martyrology” e está envolvida em trabalhos
de pesquisa sobre a história do terror do estado soviético e na preservação da memória histórica. Foi ainda agraciada com a medalha de Ouro pelo Ministério da Cultura e pelo Conselho para a Proteção dos Monumentos à Luta e Martírio da Polónia.

Svetlana Gannushkina

Svetlana é uma ativista russa de direitos humanos com várias nomeações para o Prêmio Nobel da Paz.
Antes de iniciar a sua carreira em direitos humanos, foi professora de matemática na Universidade Estatal Russa de Ciências Humanas. O seu ativismo pelos direitos humanos tornou-se conhecido na década de 1990 quando, após o colapso da União Soviética, eclodiram inúmeros conflitos. Tem dedicado a sua vida a ajudar refugiados, deslocados internos e vítimas de guerra.
Em 1990, Svetlana fundou o Comité de Assistência Cívica (Komitet Grazhdanskoe Sodeistvie), uma ONG que luta pelos direitos humanos, principalmente no que diz respeito a imigrantes e refugiados. Até 2011, Svetlana Gannushkina foi membro do Conselho Presidencial para a Sociedade Civil e Direitos Humanos. Também é membro do conselho da International Memorial.

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